segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

18 - Anotações para a reconstrução de uma catedral de areia (Carlos Alberto Roldán)


ISBN: 978-989-688-255-6.
Formato: 13 x 9,5 cm - 40 pág. - P.V.P.: € 5,00.
Edição bilingue
(Versão portuguesa: Xavier Zarco)



aquel en quien cifro una ilusión por toda vida
(éste que arrastra huesos y sospecha de lumbres)
junta sus días a la su ella
y así tira sus dados de vísceras y plegaria
en otra es dispersado un hombre que combate
o en selva y montañas
escabulle al azar su nuevo día

así lo que hay

un torpe mundo que llevar a cuestas
o enroscar a hierro con la marca de cambio

y se profiere la palabra vida

innecesaria la palabra dios en la coyunda
nómbrese al animal sin reino
en su permanente forajida de sueños

póngaselo
en la rayuela inversa que de cielo hace tierra

désele pan o arma o palabra o azada
para que vea cómo es sencillo el arte que le toca
a contemplar

ya es un rojo el oriente ya emblanquece
ya la línea toda del mar
se empapa de luz
y una congoja muy honda
una zozobra sin término
en el hombre que teme erguirse todavía

*

ainda não ergue sua esplêndida obra o sol
nas regiões do homem
a treva mesquinha se agacha efémera
como se alguma vez pudera
postergar indefinido seu reino – que o fará em tempo -:
aquele em quem cifro uma ilusão para toda a vida
(este que arrasta ossos e suspeita de lumes)
junta seus dias aos dela
e assim atira seus dados de vísceras e oração
noutra é dispersado um homem que combate
ou em selva e montanhas
foge ao acaso seu novo dia

assim o que há

um torpe mundo para levar às costas
ou enroscar a ferro com a marca de mudança

e se profere a palavra vida

desnecessária a palavra deus na conjuntura
nomeie-se o animal sem reino
na sua permanente fuga de sonhos

coloque-se-lo
na macaca inversa que do céu faz terra

dê-se-lhe pão ou arma ou palavra ou enxada
para que veja como é simples a arte que lhe calha
a contemplar

já é um vermelho o oriente já embranquece
já a linha toda do mar
se embebe de luz
e uma angústia profunda
um esmorecer sem termo
no homem que teme erguer-se ainda

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

17 - Notas para um epitáfio (José Luis García Martín)

ISBN: 978-989-688-253-2.
Formato: 13 x 9,5 cm - 40 pág. - P.V.P.: € 5,00.
Edição bilingue
(Versão portuguesa: Xavier Zarco)



UNA DEDICATORIA 


Al frente de un viejo poema,
me sorprende tu nombre y a la memoria vuelven
días llenos de indignidad y vértigo,
de no saberse solo y saberse perdido.
Vuelven dicha y desdicha, una canción
que oíamos cada tarde: El brillo
de tus ojos, única luz en mi sendero,
turbio fragor del agua bajo el puente,
el banco aquel en el Jardín Botánico,
calles sin voluntad hacia la atroz delicia
de dejar de existir para siempre en tus brazos.
¡Tantas veces deseé no haberte conocido!
Aquellos pocos días fueron toda mi vida.
Tras arder han dejado este puñado
de versos, una ciudad tachada, cicatrices
que ignoro, que no duelen, que no se borran nunca.
Todo fue necesario, de nada me lamento.
Ahora soy más feliz, pero estoy muerto.


UMA DEDICATÓRIA


À frente de um velho poema,
me surpreende teu nome e à memória voltam
dias plenos de indignidade e vertigem,
de não saber-se só e saber-se perdido.
Voltam sorte e má sorte, uma canção
que ouvíamos cada tarde: O brilho
de teus olhos, única luz no meu caminho,
turvo fragor de água sob a ponte,
aquele banco no Jardim Botânico,
ruas sem vontade para a atroz delícia
de deixar de existir para sempre em teus braços.
Tantas vezes desejei não te ter conhecido!
Aqueles poucos dias foram toda a minha vida.
Depois de arder deixaram este punhado
de versos, uma cidade riscada, cicatrizes
que ignoro, que não doem, que não se apagam nunca.
Tudo foi necessário, de nada me lamento.
Agora sou mais feliz, mas estou morto.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

16 - Coisa em terceto de assim e Essa cisma que é o dia (Luís Altério)

ISBN: 978-989-688-252-5.
Formato: 13 x 9,5 cm - 32 pág. - P.V.P.: € 5,00.




sempiterno dogma:
nós e o mal
de resto, a idiossincrasia do medo.

*

forma de ostentar lucidez,
fé fria e funesta
maturar dianteira.

15 - Viagem (Jorge Santos)


ISBN: 978-989-688-250-1.
Formato: 13 x 9,5 cm - 32 pág. - P.V.P.: € 5,00.



Desfaz da minh’alma o novelo 


Nem sei se arpas tenho, perto deste novelo,
Que desenrolo na direcção do sol-posto,
Lentamente… (como se faz uma canção)
“Sabe Deus porque tenho aspas, em mim”

Sendo de finos fios e branco cabelo,
Faz um som, que em mim ralha e dói,
Como um barco parado, pedindo abate
Sabendo que existe e o mar cresce, cresce

Não sei se harpas tenho, no cabelo,
Ou se é o destino, mostrando o caminho
Lento, sem rede que leva da alma, o poente
Que parece que volta, mas não volta.

Nem sei que alma das minhas chora,
A do novelo de lã, que desenrola
Lentamente ou a do vento que traz
Uma canção de arpas, que o meu coração

Desfaz... desfaz da lã, o novelo…