segunda-feira, 1 de agosto de 2016

36 - diospiros amadurecendo com o frio (Jane Hirshfield)



ISBN: 978-989-688-277-8
Formato: 13 x 9,5 - 40 pág. - € 5,00
Edição bilingue
(Versão portuguesa: Francisco José Craveiro de Carvalho)


Fado 

A man reaches close
and lifts a quarter
from inside a girl’s ear,
from her hands takes a dove
she didn’t know was there.
Which amazes more,
you may wonder:
the quarter’s serrated murmur
against the thumb
or the dove’s knuckled silence?
That he found them,
or that she never had,
or that in Portugal,
this same half-stopped moment,
it’s almost dawn,
and a woman in a wheelchair
is singing a fado
that puts every life in the room
on one pan of a scale,
itself on the other,
and the copper bowls balance.

*


Fado

Um homem aproxima-se
e da orelha de uma rapariga
tira vinte cêntimos
e uma pomba das mãos
que ela não sabia que lá estava.
O que é mais surpreendente,
pode perguntar-se:
o murmúrio denteado da moeda
de encontro ao polegar
ou o silêncio da pomba tocado pelos nós dos dedos?
Que ele os tenha descoberto
ou que ela não
ou que em Portugal,
neste preciso momento de breve pausa,
seja quase madrugada
e uma mulher numa cadeira de rodas
cante um fado
que coloca as vidas dos que estão na sala
num prato de uma balança
e a si no outro
e os dois pratos em cobre se equilibrem.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

35 - O melhor som do mundo (David Lehman)



ISBN: 978-989-688-276-1
Formato: 13 x 9,5 - 40 pág. - € 5,00
Edição bilingue
(Versão portuguesa: Francisco José Craveiro de Carvalho)

January 31 (1996) 


The sky is crumbling into millions of paper dots
the wind blows in my face
so I duck into my favorite barber shop
and listen to Vivaldi and look in the mirror
reflecting the shopfront windows, Broadway
and 104th, and watch the dots blown by the wind
blow into the faces of the walkers outside
& here comes a thin old man swaddled in scarves,
he must be seventy-five, walking slowly,
and in his mind there is a young man dancing,
maybe seventeen years old, on a June evening –
he is that young man, I can tell, watching him walk



31 de Janeiro (1996)


O céu está a desfazer-se em milhões de papelinhos
o vento sopra na minha cara
e eu meto-me na minha barbearia preferida,
ouço Vivaldi, olho no espelho
as montras reflectidas, Broadway
e a 104ª, vejo os papelinhos soprados pelo vento
caírem nas faces dos peões lá fora
& aqui vem um velho, magro, cheio de cachecóis,
deve ter uns setenta e cinco, a caminhar devagar,
na sua mente há um jovem a dançar,
talvez uns dezassete, num fim de tarde de Junho –
e vejo que ele é esse jovem pela maneira como anda

34 - Ela viu o pica-peixe (Neil Curry)



ISBN: 978-989-688-275-4
Formato: 13 x 9,5 - 40 pág. - € 5,00
Edição bilingue
(Versão portuguesa: Francisco José Craveiro de Carvalho)

Another Day in the Park 


After breakfast
he sat,
having nothing better to do,
on a wooden bench
in the park.

The pigeons ran about
around his feet.

The statues did not.

Then the statues
shooed the pigeons off,
and took command
of the park,

inviting him to adopt a pose,
to assume a posture,
which, albeit suitably heroic,
might not,

they hoped,
prove too onerous
to maintain
till it was dark.


Mais um dia no parque


Depois do pequeno almoço
sentou-se,
sem nada de melhor para fazer,
num banco de madeira
no parque.

Os pombos andavam por ali
à volta dos seus pés.

As estátuas não.

Depois as estátuas
correram com os pombos
e tomaram conta
do parque,

convidando–o a adoptar uma pose,
a assumir uma postura,
que, embora adequadamente heróica,
não pudesse,

esperavam,
vir a revelar-se demasiado difícil
de manter
até escurecer.

33 - Porta Entreaberta (António MR Martins)



ISBN: 978-989-688-274-7
Formato: 13 x 9,5 - 32 pág. - € 5,00

1.

No exterior uma lápide
ao lado da porta da mudança
uma imagem que foi protectora
neste tempo a presença
de uma saliência esbatida

32 - versos para perseguir sem pressa o silêncio (Rocío Wittib)



ISBN: 978-989-688-273-0
Formato: 13 x 9,5 - 32 pág. - € 5,00
Edição bilingue
(Versão portuguesa: Xavier Zarco)

*


escribo para regresar a mí
no sé de dónde partí
      pero vuelvo de muy lejos

*

escrevo para regressar a mim
não sei de onde parti
      mas volto de muito longe

31 - Jardim de desejo (Raquel Rodrigues)



ISBN: 978-989-688-271-6
Formato: 13 x 9,5 - 24 pág. - € 5,00

Degustação dos seres 


Do vento partem as plumas
Que alvoroçam o teu corpo
Dos beijos enraízam a paixão
Do nosso cio

Por entre o meu vértice corre
A insensatez das águas do meu cerne
Na voracidade dos sons saídos da nossa degola dos sexos maduros

Respiro o teu ar por entre a tua boca semiaberta
Depravo os teus cantares de degustação de mim

Perdemo-nos no caminhar do desejo
Que irradia de nós
Perenes ficamos no amplexo do sexo que findou

30 - A Boca Solitária do Orvalho (João Rasteiro)



ISBN: 978-989-688-270-9
Formato: 13 x 9,5 - 40 pág. - € 5,00

1. 
O coração seca 
quando o verbo brilha. 
Floresce o Inverno. 

2. 
Não seremos corpo, 
só o sagrado lenho, 
a infrutuosa folha. 

3. 

Absoluto silêncio. 
Ocultos sonhos que ousas 
não me rogam a mim!

29 - 20 Poenímios (César Abraham Navarrete Vázquez)



ISBN: 978-989-688-268-6
Formato: 13 x 9,5 - 32 pág. - € 5,00
Edição bilingue
(Versão portuguesa: Francisco José Craveiro de Carvalho)

Hora feliz

Se cierra
La barra
Se abren
Las                piernas



Hora feliz

Fecha
O balcão
Abrem-se
As                    pernas

28 - Praça Velha (francisco josé craveiro de carvalho)



ISBN: 978-989-688-267-9
Formato: 13 x 9,5 - 24 pág. - € 5,00


(Açucareiro) 

Cinquenta
anos antes
levantava-se
a tampa
e via-se o açúcar.

Ora amarelo
ora branco.

27 - Coração do mundo (Rubens Jardim)



ISBN: 978-989-688-266-2
Formato: 13 x 9,5 - 40 pág. - € 5,00



POEMA DO AVESSO

O que há em mim
é a lenta preparação
do que há em ti
sombra segada
sangrada
e sagrada
até nos olhos
dos meninos que nasceram
sem olhos

vidência única
(vide o verso)

visão múltipla
(vede o anverso)

e tudo que está do outro lado

do espelho.

26 - O Grande Nada Azul (Ângelo Alves)



ISBN: 978-989-688-263-1
Formato: 13 x 9,5 - 24 pág. - € 5,00


І 

Amar-te, amar-te 
É um cabelo 
Que no chão chora 
Ao escaravelho. 

É a grande onda 
Que a toda a hora 
Brame na orelha. 

É o piano 
Que me enregela 
Os débeis dedos. 

É o ocre plátano 
Que o céu espelha 
Nos olhos gélidos. 

É perguntar 
Ao coração 
P’la erva das veias.

(...)

25 - Macau (Gonçalo Lobo Pinheiro)



ISBN: 978-989-688-262-4
Formato: 13 x 9,5 - 32 pág. - € 5,00


perto do lago Nam Van

o caminho para o coração, perdido, encurtou-se em demasia. perco a fala enquanto me morrem os sentimentos e a loucura. mordi os lábios e quebrei recordações. temi. é uma tristeza que me assiste enquanto não tenho forças nas pernas ao fugir. faltou-me apenas gritar rente à memória e traduzir o gesto desenfreado que me dirigiste.

23 - a rua de hopper (francisco josé craveiro de carvalho)




ISBN: 978-989-688-261-7
Formato: 13 x 9,5 - 32 pág. - € 5,00

Gran Vía

Os engraxadores na Gran Vía
terão visto tudo.
E coisas menos vulgares.

Mesmo à nossa frente
uma noiva desliza
tão airosa como um grama.

O cliente acaba de se perder
no seu guia da cidade.
Velho sente-se enxovalhado.

Três euros e cinquenta
bem ou mal usados
por um acertado polimento.

No fim da vida acontece.
A gorgeta costumava
já sabemos ser folgada.

22 - Luzes (José Rafael Hernández Fereira)



ISBN: 978-989-688-259-4
Formato: 13 x 9,5 - 32 pág. - € 5,00
Edição bilingue
(Versão portuguesa: Tania Mendonça)

*

La distancia
nos descubrió
solitarios y errantes.

Asteroides lejanos
en el profundo
espacio cibernético.

Luces titilantes
que vibrando en la noche
chocando se conocieron.

*

A distância
nos descobriu
solitários e errantes.

asteróides distantes
nas profundezas
do espaço cibernético.

luzes cintilantes
que vibrando na noite
se chocando conheceram-se

terça-feira, 19 de abril de 2016

21 - Todas as chamas do fogo (João Tomaz Parreira)



ISBN: 978-989-688-258-7
Formato: 13 x 9,5 - 32 pág. - € 5,00




OS GATOS SÃO TRISTES


Pintores e fotógrafos têm tentado provar
A alegria dos gatos, os escritores limitam-se
À sua sonolência sobre a mesa, mas os gatos são tristes

Os seus olhos são melancólicos, uma vez
Pousados sobre o objecto, não parecem
Mas os objectos para os gatos são tão vazios
Como o espaço que ocupam, não estão lá

Os gatos são também relógios
Independentes do tempo que passa
Lagos mansos, como dizia um poeta, antes que
A tempestade quebre as virtudes
Do silêncio

Têm connosco uma coisa em comum, miam
As suas próprias palavras. E mentem

Como a alegria dos palhaços.

20 - Desconexões (andar pelas fragas do caminho) (Severino Moreira)




ISBN: 978-989-688-257-0
Formato: 13 x 9,5 - 32 pág. - € 5,00



POUCO À VIDA DEI


Alvíssaras teria dado um dia,
A quem no antanho do tempo
E em contratempo,
Me tivesse atenuado o sonho e a euforia.

Hoje sei que pouco à vida dei
(Para lá de ter sempre amado muito
Quem amei).

Mas a mim, e aos outros e à vida vivida,
Que terei feito de concreto e definido,
Que não fosse mascarar o pesar e o gemido?

… Essa terá sido a lida mais aguerrida…

sábado, 12 de março de 2016

19 - Impurezas (Leonora Rosado)




ISBN: 978-989-688-256-3
Formato: 13 x 9,5 cm - 32 pág. - P.V.P.: € 5,00.


Harpa de Sombras


Pela inexactidão
Construída dos dias
Os teus dedos
Harpejam as cordas
De uma harpa de sombras
Sonoras
O tempo é um espinho
Que chega de dentro
Para fora
Perfura a luz inevitável
Da morte
Como se houvesse
Um túnel ao fundo
Sem saída
Como se esperar
Fosse cortar a corda
Alimento para o final
Do corpo.

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

18 - Anotações para a reconstrução de uma catedral de areia (Carlos Alberto Roldán)


ISBN: 978-989-688-255-6.
Formato: 13 x 9,5 cm - 40 pág. - P.V.P.: € 5,00.
Edição bilingue
(Versão portuguesa: Xavier Zarco)



aquel en quien cifro una ilusión por toda vida
(éste que arrastra huesos y sospecha de lumbres)
junta sus días a la su ella
y así tira sus dados de vísceras y plegaria
en otra es dispersado un hombre que combate
o en selva y montañas
escabulle al azar su nuevo día

así lo que hay

un torpe mundo que llevar a cuestas
o enroscar a hierro con la marca de cambio

y se profiere la palabra vida

innecesaria la palabra dios en la coyunda
nómbrese al animal sin reino
en su permanente forajida de sueños

póngaselo
en la rayuela inversa que de cielo hace tierra

désele pan o arma o palabra o azada
para que vea cómo es sencillo el arte que le toca
a contemplar

ya es un rojo el oriente ya emblanquece
ya la línea toda del mar
se empapa de luz
y una congoja muy honda
una zozobra sin término
en el hombre que teme erguirse todavía

*

ainda não ergue sua esplêndida obra o sol
nas regiões do homem
a treva mesquinha se agacha efémera
como se alguma vez pudera
postergar indefinido seu reino – que o fará em tempo -:
aquele em quem cifro uma ilusão para toda a vida
(este que arrasta ossos e suspeita de lumes)
junta seus dias aos dela
e assim atira seus dados de vísceras e oração
noutra é dispersado um homem que combate
ou em selva e montanhas
foge ao acaso seu novo dia

assim o que há

um torpe mundo para levar às costas
ou enroscar a ferro com a marca de mudança

e se profere a palavra vida

desnecessária a palavra deus na conjuntura
nomeie-se o animal sem reino
na sua permanente fuga de sonhos

coloque-se-lo
na macaca inversa que do céu faz terra

dê-se-lhe pão ou arma ou palavra ou enxada
para que veja como é simples a arte que lhe calha
a contemplar

já é um vermelho o oriente já embranquece
já a linha toda do mar
se embebe de luz
e uma angústia profunda
um esmorecer sem termo
no homem que teme erguer-se ainda

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

17 - Notas para um epitáfio (José Luis García Martín)

ISBN: 978-989-688-253-2.
Formato: 13 x 9,5 cm - 40 pág. - P.V.P.: € 5,00.
Edição bilingue
(Versão portuguesa: Xavier Zarco)



UNA DEDICATORIA 


Al frente de un viejo poema,
me sorprende tu nombre y a la memoria vuelven
días llenos de indignidad y vértigo,
de no saberse solo y saberse perdido.
Vuelven dicha y desdicha, una canción
que oíamos cada tarde: El brillo
de tus ojos, única luz en mi sendero,
turbio fragor del agua bajo el puente,
el banco aquel en el Jardín Botánico,
calles sin voluntad hacia la atroz delicia
de dejar de existir para siempre en tus brazos.
¡Tantas veces deseé no haberte conocido!
Aquellos pocos días fueron toda mi vida.
Tras arder han dejado este puñado
de versos, una ciudad tachada, cicatrices
que ignoro, que no duelen, que no se borran nunca.
Todo fue necesario, de nada me lamento.
Ahora soy más feliz, pero estoy muerto.


UMA DEDICATÓRIA


À frente de um velho poema,
me surpreende teu nome e à memória voltam
dias plenos de indignidade e vertigem,
de não saber-se só e saber-se perdido.
Voltam sorte e má sorte, uma canção
que ouvíamos cada tarde: O brilho
de teus olhos, única luz no meu caminho,
turvo fragor de água sob a ponte,
aquele banco no Jardim Botânico,
ruas sem vontade para a atroz delícia
de deixar de existir para sempre em teus braços.
Tantas vezes desejei não te ter conhecido!
Aqueles poucos dias foram toda a minha vida.
Depois de arder deixaram este punhado
de versos, uma cidade riscada, cicatrizes
que ignoro, que não doem, que não se apagam nunca.
Tudo foi necessário, de nada me lamento.
Agora sou mais feliz, mas estou morto.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

16 - Coisa em terceto de assim e Essa cisma que é o dia (Luís Altério)

ISBN: 978-989-688-252-5.
Formato: 13 x 9,5 cm - 32 pág. - P.V.P.: € 5,00.




sempiterno dogma:
nós e o mal
de resto, a idiossincrasia do medo.

*

forma de ostentar lucidez,
fé fria e funesta
maturar dianteira.

15 - Viagem (Jorge Santos)


ISBN: 978-989-688-250-1.
Formato: 13 x 9,5 cm - 32 pág. - P.V.P.: € 5,00.



Desfaz da minh’alma o novelo 


Nem sei se arpas tenho, perto deste novelo,
Que desenrolo na direcção do sol-posto,
Lentamente… (como se faz uma canção)
“Sabe Deus porque tenho aspas, em mim”

Sendo de finos fios e branco cabelo,
Faz um som, que em mim ralha e dói,
Como um barco parado, pedindo abate
Sabendo que existe e o mar cresce, cresce

Não sei se harpas tenho, no cabelo,
Ou se é o destino, mostrando o caminho
Lento, sem rede que leva da alma, o poente
Que parece que volta, mas não volta.

Nem sei que alma das minhas chora,
A do novelo de lã, que desenrola
Lentamente ou a do vento que traz
Uma canção de arpas, que o meu coração

Desfaz... desfaz da lã, o novelo…

sábado, 30 de janeiro de 2016

14 - À flor da pele (Álvaro Alves de Faria)


ISBN: 978-989-688-251-8.
Formato: 13 x 9,5 cm - 40 pág. - P.V.P.: € 5,00.



À FLOR DA PELE


É o sangue que salta
do furo do corte
sem a palavra muda
que se deixa morrer na boca.

Escorre esse sangue no vermelho
do próprio vermelho,
onde o vermelho se faz do avesso
e paralisa a bala junto à fronte.

A poesia não sabe dizer o fim das coisas
e não interfere na vida,
mas a vida interfere no poema
e o poeta só observa em sua morte.

É o vaso que se quebra
e transforma a poesia em nada.

A poesia sempre foi nada
na ordem das coisas,
mas as coisas não têm ordem:
isso não tem significado nenhum.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

13 - Re-visitando 3 poemas (Manuel Ângelo Ochôa)




ISBN: 978-989-688-249-5.
Formato: 13 x 9,5 cm - 16 pág. - P.V.P.: € 5,00.



Bruto avantajado cão do prédio
devaneia entre caóticos destroços.
Falho de motivos poéticos, aceno-lhe,
a querer conquistá-lo amigo: - Amigo!
Alça até mim vidrados olhos;
abana inteirado a farta cauda;
faz que ladra, e, depois, dá outra volta.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

12 - Postais da ponte (Sam I See)



ISBN: 978-989-688-248-8.
Formato: 13 x 9,5 cm - 32 pág. - P.V.P.: € 5,00.


1. Postais da ponte 


Às vezes pergunto às penas perdidas das asas do por aí
– O que enviou hoje para mim o som do céu?
No risco do riso...

Respondem o de sempre sem errar:

– Todo amor que seu coração conseguir abraçar.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

11 - Eu entro docilmente nesse vale escuro (João Tomaz Parreira)

ISBN: 978-989-688-246-4.
Formato: 13 x 9,5 cm - 32 pág. - P.V.P.: € 5,00.


SALMO 1 

Não é um salmo, é um umbral
não é para homens com filactérios
sobre os ombros, é o salmo inicial
das águas, um salmo para nele
os pobres felizes
terem sempre os pés molhados
como as árvores a subir dos rios.

10 - Encontro (Susana Campos)

ISBN: 978-989-688-247-1.
Formato: 13 x 9,5 cm - 24 pág. - P.V.P.: € 5,00.


I

Sim, eu sei
que nos campos agrestes em espinhos, floresces
na brancura do sangue a pulsar
quando acordas e tudo escurece

eu sei que sabes a cor do sonho
eu sei que em delírio te tornas soldado

da vida, da vida

Às vezes no sonho tudo se ilumina
e eu procuro dizer-te que nada é nada
eu sei, sei onde nasce a delicada curvatura
do sorriso que em ti se instala,
inebriado dentro de mim

De que sei?

Juras que para lá da verdade, és tu
nos caminhos, afastas as arestas que te ferem,
sobrevivendo de mansinho
e em movimentos circundantes, deambulas
ao som do teu corpo
dormente,
eu sei que o amor é duro e dele espelhas tua face
em rugas que se despem,
que ninguém perdoa,
no tempo que não viveste em silêncio
e por vezes tudo se ilumina.



8 - Sem Luar (Lília Tavares)

ISBN: 978-989-688-244-0.
Formato: 13 x 9,5 cm - 24 pág. - P.V.P.: € 5,00.


1

Acordo árvore,
anoiteço lua,
barco acordaria amanhã.

2

És a minha noite que dói sem lua,
eternizada na transparência
do desejo de um instante.

7 - O Banquete de Estado (J.J. Sobral)

ISBN: 978-989-688-243-3.
Formato: 13 x 9,5 cm - 16 pág. - P.V.P.: € 5,00.



Disse, ao olhar meu país
E ver o que cá se passa
Estou doente e infeliz
por haver tanta desgraça


Tinha mal-estar na cabeça
Nas entranhas forte dor
Antes que mais adoeça
vou procurar um doutor


No consultório queixei-me
Ai doutor, estou tão aflito!
À frente dele peidei-me
Se calhar até vomito!

O sábio médico disse
Vá peidar, cagar, mijar
mas só lhe passará isso
após muito vomitar


(...)

5 - Lisboa (Edgardo Xavier)


ISBN: 978-989-688-241-9.
Formato: 13 x 9,5 cm - 24 pág. - P.V.P.: € 5,00.



1

Perguntando te dirão de mim
com palavras, dedos e silêncios.
Verás que em cada boca nasço outro
e de cada gesto me entenderás diferente.
Ninguém no fundo me sabe ou reconhece
de tanto que mudo para ser pássaro
de tanto que sangro para ser livre
de tanto que me inquieta a tua voz
de noite irreverente.

Sou todos os homens da tua fome
na pele de ninguém.

4 - Génesis (Emanuel Lomelino)



ISBN: 978-989-688-240-2.
Formato: 13 x 9,5 cm - 32 pág. - P.V.P.: € 5,00.



1

Primeiro era o breu,
depois o silêncio!
Não existia nada
para lá do vazio.
Depois nasceu o verbo
que acendeu as luzes
e os poetas viram
que havia um mundo
imenso à espera
do seu olhar perspicaz
e das suas palavras.

3 - Severo Destino (António MR Martins)




ISBN: 978-989-688-239-6.
Formato: 13 x 9,5 cm - 32 pág. - P.V.P.: € 5,00.



o começo 



não tenho a certeza de nada
e as palavras tanto me doem,
assim como me dói o pensamento.

sei-me mulher e mãe,
simples grão da humanidade
com um normal sentido único
em ritual verdadeiro.

sei-me nessa verdade
também trabalhadora eficaz
e mulher íntegra no seu todo.

neste fascínio da vida
onde a pele tanto se empola
em rituais dissimulados
perante a dor mais intensa.

sei que me sei
onde me sei apenas,
nada mais.

2 - Manual de escultura (José Félix)

ISBN: 978-989-688-238-9.
Formato: 13 x 9,5 cm - 24 pág. - P.V.P.: € 5,00.


na robustez da pedra
aponta
o cinzel que modela
a face oculta

a que tem a substância
da doação
de nítida religiosidade
na sombra do sol

a ferramenta
prepara a pedra
a rugosidade do corpo

envelhece-o
na solidez permanente
do pó


1 - Indícios para um cântico poveiro (Xavier Zarco)

ISBN: 978-989-688-227-3.
Formato: 13 x 9,5 cm - 32 pág. - P.V.P.: € 5,00


A obra “Indícios para um cântico poveiro” foi distinguida com uma menção honrosa no âmbito do Prémio Literário Fundação Dr. Luís Rainha Correntes d’Escritas 2011. O júri foi constituído pela Dr.ª Conceição Nogueira, Professor Doutor João Marques e pelo Dr. José Carlos Vasconcelos.


1. 

escreve-se a palavra mar e o mar 
os chama 
como chama que corre nas entranhas 
não da palavra homem 
mas do homem que raul brandão refere 
que só tendo a morte 
quase certa 
não vai ao mar 
o mar que esta palavra mar nomeia